Entre o Nada e a Utopia

Entre o Nada e a Utopia
 

 Na exaustão de ser, no cansaço de almejar

 e ainda assim desejando ainda ter.

 Quantas não foram as promessas nascidas nas auroras,

 que morreram no silêncio dos crepúsculos?

 E o medo talvez já tenha crescido o suficiente

 para enfrentar a coragem, e esta envelheceu.

 Ilusões de um paraíso perdido,

 delírios da conquista de nossas utópicas criações.

 As ruas estão vazias, como vazia está a mente,

 como vazio se encontra o coração 

 ainda vergado ante o niilismo.

 As chamas quase apagadas da alma ainda querem arder,

 queimar na sua totalidade, fazendo-se cinzas.

 Incandescentes cinzas que, mesmo mortas,

 haverão de viver pela insistência de seu calor afetivo.

 Nem a primavera, nem o outono,

 mas o inverno a se digladiar com o verão.

 A fraqueza da velhice

 minando a força estúpida da juventude,

 e então a tempestade.

 A fúria da natureza que não quer morrer,

 mas antes sobreviver a qualquer custo.

 E então a morte não ser dada por pouco,

 mas perdida em meio a violenta luta.

 Pois que se confrontam vida e morte,

 utopia e niilismo, o viver futuro e o desprezo ao viver.

 Pois que para os envelhecidos de alma

 não bastam os fugazes prazeres do corpo.

 Sonham com a transcendência de ser,

 nada querem, mas ocultam tanto desejo de encontro,

 que toda a fúria é insuficiente

 para conquistar uma réstia de paz.

 E pela paz a eterna guerra.


Gilberto Brandão Marcon



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